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domingo, 24 de junho de 2012

Homenagem a Vladimir Herzog no Midrash Centro Cultural



Na ocasião dos 75 anos de Vlado, Zuenir Ventura homenageia seu amigo e colega de profissão, morto pela ditadura militar.

Vladimir Herzog nasceu na Iugoslávia, em 1937. Em 1942, emigrou para o Brasil, com os pais Zora e Zigmund, fugindo do nazismo. Formou-se em filosofia pela USP, mas foi como jornalista que ele se destacou, tendo trabalhado em importantes órgãos de imprensa como o jornal O Estado de S. Paulo, onde ajudou a implantar a sucursal de Brasília, então recém-inaugurada. No início da década de 60, casou-se com a publicitária Clarice Herzog, com quem teve dois filhos, Ivo e André.
Em 1963, teve sua primeira experiência na TV, como redator e secretário do "Show de Notícias", telejornal diário do antigo Canal 9 de São Paulo, TV Excelsior. Em 1965, viajou para Londres, contratado pelo Serviço Brasileiro da BBC. De volta, trabalhou de 1968 a 1973 na revista Visão, como editor de cultura. Em 1972, foi para a TV Cultura, secretariar o recém-lançado "Hora da Notícia". Paralelamente, dava aulas na FAAP e na ECA-USP.
Em todas as suas atividades, Vlado sempre se pautou pela extrema seriedade e honestidade profissional. O mesmo rigor e o zelo que exigi de seus subordinados, impunha-se a si próprio. Em 1975, assumiu a direção de jornalismo da TV Cultura, antevendo, finalmente, a possibilidade de por em prática seu conceito de responsabilidade social do jornalismo na TV. No projeto que enviou ao presidente da Fundação Padre Anchieta, Rui Nogueira Martins, e ao secretário de Cultura, José Mindlin, que ele chamou de "Considerações Gerais Sobre a TV Cultura", diz: "Jornalismo em rádio e TV deve ser encarado como instrumento de diálogo, e não como um monólogo paternalista. Para isso, é preciso que espelhe os problemas, esperanças, tristezas, e angústias das pessoas ás quais se dirige. Um telejornal de emissora do governo também pode ser um bom jornal e, para isso, não é preciso ´esquecer´ que se trata de emissora do governo. Basta não adotar uma atitude servil".
Além do jornalismo, Vlado tinha outra grande paixão: o cinema. Seu grande sonho era fazer um filme sobre Canudos. Em 1975, havia decidido, finalmente, realizar esse sonho, mesmo com o novo cargo, de diretor de jornalismo da TV Cultura, tomando todo o seu tempo. A repressão impediu-o.
Na noite do dia 24 de outubro de 1975, o jornalista apresentou-se na sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/ Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia seguinte, foi morto aos 38 anos.
Segundo a versão oficial da época, ele teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário. Porém, de acordo com os testemunhos de Jorge Benigno Jathay Duque Estrada e Rodolfo Konder, jornalistas presos na mesma época no DOI/CODI, Vladimir foi assassinado sob torturas.
Como Herzog era judeu, o Shevra Kadish (comitê funerário judaico) recebeu o corpo e, ao prepará-lo para o funeral, o rabino percebeu que havia marcas de tortura no corpo do jornalista, prova de que o suicídio tinha sido forjado.
A morte de Herzog foi um marco na ditadura militar (1964 - 1985). O triste episódio paralisou as redações de todos os jornais, rádios, televisões e revistas de São Paulo. Os donos dos veículos de comunicação fizeram um acordo com os jornalistas. Todos trabalhariam apenas uma hora, para que os jornais e revistas não deixassem de circular, e as emissoras de rádio e televisão continuassem com suas programações.
No dia 31 de outubro de 1975, foi realizado um culto ecumênico em memória de Herzog na Catedral da Sé, do qual participaram 8.000 pessoas, num protesto silencioso contra o regime.

ZUENIR VENTURA nasceu em Além Paraíba, em Minas Gerais, em 1931. Seu primeiro envolvimento com o jornalismo foi trabalhando no arquivo da Tribuna da Imprensa. Trabalhou como repórter, redator e editor em vários órgãos da imprensa brasileira, entre eles o Correio da Manhã e o Diário Carioca.
É autor dos best-sellers 1968, O Ano que não TerminouCidade PartidaChico Mendes - Crime  e Castigo e Inveja - Mal Secreto entre outros.
Ganhou diversos prêmios pelo livro 1968: O ano que não terminou. Foi agraciado também com os prêmios Esso de Jornalismo e o Wladimir Herzog de Jornalismo.
Atualmente é colunista semanal do Jornal O Globo.